24 agosto 2010

Metamorfose


Com 48 anos nas costas não me arrependo de nada do que fiz ou do que deixei de fazer, as coisas vão acontecendo e sempre decidimos fazer o que, naquele momento, é o melhor para nós. 
Depois que adquiri a Fibromialgia eu passei a dizer que nem um câncer me derruba.
Eu comparo o meu sofrimento ao sofrimento de uma pessoa com câncer porque é uma doença que muitas vezes não tem cura, que também causa muita dor e que afeta o estado psicológico das pessoas, então se hoje eu tiver um câncer eu tiro de letra! A diferença entre a Fibromialgia e o câncer é que o segundo pode vir a matar. Não tenho medo da morte, mas tenho medo de sofrer.
Se eu passei pelo que passei e estou seguindo, posso encarar qualquer coisa! O problema é que isso eu só posso dizer em relação a fatos que podem acontecer comigo porque se outras pessoas estão com problemas, posso até parecer uma fortaleza naquele momento só que depois eu desabo e me sinto exaurida, sem forças e bastante abalada. Não gosto de ver o sofrimento dos outros. Não me acho uma maravilha da natureza por isso.
Dizem que temos que nos aceitar como somos, mas não gosto de ser sensível e depois que adquiri a Fibromialgia fiquei ainda mais sensível aos abalos emocionais. O pior é que mesmo sabendo desta minha característica eu ainda não aprendi a deixar de apoiar as pessoas em momentos difíceis, é claro que se vou fazer isso é por pessoas de que gosto e que são importantes para mim e ver o sofrimento delas me faz sofrer muito.
Não seria muito mais fácil fazer como as outras pessoas? Dar alguma desculpa esfarrapada qualquer e tirar o corpinho fora? O que me consola, quando estou em farrapos é o fato de pensar que tudo o que fazemos de bom, volta em dobro para nós, ou seja, é a tal da lei do retorno!
Depois que me tornei uma Fibromialgica comecei a ver as coisas de forma bem diferente. Dentre as várias conclusões a que cheguei, uma delas é que devemos realizar nossos desejos e não ficar pensando se devemos ou não fazer determinada coisa que vai nos fazer feliz. Claro que não vou sair por aí cometendo as maiores loucuras, ou fazendo as coisas desacabeçadamente e me arrepender depois. Isso nem combina com a minha personalidade.
No início deste post eu falei que não me arrependo de nada, repito isso quando me refiro ao fato de não ter tido filhos. Quando senti vontade de tê-los eu estava com 30 anos, era solteira, e como sempre faço, pensei muito sobre o assunto e decidí que não faria uma produção independente. Ter um filho é uma decisão que não envolve só a sua vida, você vai se tornar responsável por outra vida, uma vida que durante um bom período ficará sujeita a passar com você por toda e qualquer adversidade e sem ter escolha. Acho muito cômodo as pessoas terem filhos para realizar o desejo de tê-los sem pensar em como será a vida desta criança e de como será o futuro desta pessoa.
Como já disse não me arrependo por não tê-los tido, mas sei que por isso posso ter uma velhice mais difícil do que o normal. Sei também que muitos filhos abandonam seus pais quando estes começam a apresentar os problemas. No caso destes velhinhos abandonados, o fato de terem tido filhos ou não, não faz a menor diferença, a diferença está em saber que foram abandonados pelos próprios filhos e isso deve ser horrível.
Está ai mais um bom motivo para que procuremos relizar os nossos desejos enquanto temos condições de usufruir as coisas boas que nos farão felizes sejam elas quais forem. Esses nossos desejos podem ser pequenos ou grandes como, por exemplo, tomar um sorvete na sorveteria da esquina ou fazer aquela super viagem tão sonhada.
Para aqueles pais que acumularam fortunas pensando no futuro dos filhos, que podem ter deixado de fazer isso ou aquilo por eles, é como ganhar na loteria, eles tanto podem ser tratados como reis na velhice, como podem ver antes mesmo de partirem, os seus filhos se degladiarem pela fortuna acumulada ou ainda podem simplesmente ser abandonados à própria sorte.
Todos os idosos têm dificuldades e sabendo que as minhas serão ainda maiores preciso ser feliz agora. Vocês podem dizer que com 48 anos eu não deveria estar pensando nisso.
Quando eu for velhinha e estiver em um leito, sem ter ninguem para me proteger e sentindo-me vulnerável, quero saber que fui feliz e que posso ir embora sabendo que vivi tudo ou quase tudo o que tive vontade e sem ter prejudicado outras pessoas para isso, é claro.
Estou sendo egoista? Acho que não.
Para que estamos aqui se não for para sermos felizes cada um a sua maneira?
Eu já senti muita tristeza, já chorei muito, já senti muita vontade de morrer, já fiquei estagnada por tempo demais, perdi anos da minha vida chorando e me sentindo um lixo e tudo isso por causa da depressão, agora eu preciso e quero ser feliz! Todos têm esse direito!
Quem lê isso pode pensar que estou curada da depressão, mas infelizmente não estou e de tempos em tempos tenho uma recaída passageira, ainda tomo antidepressivo e não estou preocupada em quanto tempo ainda vou ter que tomá-lo porque o que importa para mim é não voltar a sentir depressão.
Estou passando por uma grande metamorfose interna e externa. Interna porque tenho mudado muito meu comportamento frente a certas coisas. Venho tentando me fortalecer, mas para isso estou tendo que me tornar uma pessoa um pouco mais fria, estou tentando me tornar menos sensível, tentando ser mais resistente e mais corajosa para quando “precisar matar um monstro por dia” eu venha a sofrer menos.
O ditado diz que “é preciso matar um leão por dia”, mas eu mato monstros porque adoro os animais.
Estou mudando externamente porque estou envelhecendo o que é muito normal e não tenho nenhuma revolta por isso, continuo me achando bonita, mas não tão linda como antes.
Toda esta metamorfose me fez deixar de ser loira para me tornar ruiva, mas este assunto colorido vai ficar para uma próxima vez.
O texto acima é de minha autoria.
* * * * *

3 comentários:

  1. Olá Cris!Adorei a sua postagem...muito sentida e dá muito que pensar...já pensei muito sobre esses assuntos, principalmente a parte de ser sensível com que me identifiquei mais e, realmente já sofri muito por viver certos momentos demasiado intensamente e só sofria por isso e muitas vezes desejei ser outra pessoa, mais madura, mais fria!É ver a vida de outra maneira, com outros olhos e outro optimismo!Fica bem.Beijnhos

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  2. Oi,amiga. O primeiro passo para uma mudança é admitir que alguma coisa não está dando certo! Bjs

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  3. Oi Cris!
    Amiga, parece que eu escrevi esse texto, tambem optamos por não ter filhos, pelos mesmos motivos que você citou, antes tinhamos vontade de adotar, mas hoje em dia, ajudamos a manter um lar e fico muito feliz quando vejo que a instituição está crescendo. Tambem tenho o mesmo problema com a sensibilidade, qualquer coisa pode afetar meu emocional e isso desencadeia uma série de outros problemas por causa da fibro, pior que eu me cobro muito por isso, me sinto culpada sabe? concordo com vc sobre ser feliz agora, eu fiz isso durante um tempo, estava indo bem, mas acabei voltando ao vicio da cobrança, tensão, stress...nem preciso entrar em detalhes né?
    Agora estou tentando retomar o controle da minha vida, é a única coisa que posso realmente controlar, mas, aprendi em comedores compulsivos anonimos que podemos fazer isso um dia de cada vez e é assim que vou tentar fazer...
    Beijão pra você, muita paz e alegria e obrigada por esse post tão inspirador viu, me ajudou muito a entender o que se passa comigo.
    Beijão!

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