20 dezembro 2010

Inocência perdida


Fui perdendo a inocência ao longo da caminhada enquanto passava pelos tropeços que a vida impõe.
Quando tinha minha inocência, eu era feliz por não conhecer as mazelas da vida. Sorria muito, chorava pouco e vivia na maior tranqüilidade, claro que tinha problemas, mas eram corriqueiros e todos solucionados com facilidade. Os piores problemas, até então, aconteceram na infância quando sofri com os maus tratos causados por meu pai. Agora quando vejo matérias que mostram crianças sendo maltratadas, penso que se fosse criança hoje, colocaria meu pai atrás das grades sem dó!
Já o perdoei! Não quero arrastar uma mala cheia de mágoas atrás de mim! Penso que ele fez o que fez por insegurança, por alguma fraqueza da personalidade ou por seguir o exemplo do prórpio pai.
Não tenho filhos, mas sei que os filhos seguem o exemplo dos pais. Meu pai viu o pai dele espancando o seu irmão que não era muito querido pelos pais por ser “mirradinho” e as surras aconteciam com a conivência da mãe, no caso minha avó. Que absurdo!
Eu senti na pele a rejeição da minha avó, que não gostava de mim e me humilhava por eu ser magra. Ela vivia paparicando minha irmã que era cheinha e a tratava como sendo mais inteligente e mais capacitada que eu! Minha irmã não tem a menor culpa sobre isso, faz parte da cultura daquela época achar que criança gorda é criança sadia. Hoje todo mundo sabe que gordura não é saúde! Dou os parabém a minha irmã por ter lutado a vida inteira contra a balança e atualmente conseguir se manter magra!
Como seqüelas dos maus tratos, meu tio teve vários problemas de saúde e faleceu cedo. Os espancamentos e humilhações aconteceram quando a família do meu pai vivia na Europa, em plena segunda guerra mundial onde certamente passaram por privações, por isso, às vezes me pergunto se esse tipo de comportamento, como o apresentado por meus avós, não foi causado pela lei da sobrevivência! Entre os animais é assim, em períodos de crise as mães deixam de alimentar os filhotes mais fraquinhos e se dedicam aos mais fortes e saudáveis! Mas não os espancam! Simplesmente não alimentam!
Nós somos animais? Somos os piores!
Os “humanos” tem comportamentos absurdos que os animais jamais teriam como, jogar ácido e pôr fogo em outras pessoas por diversão ou por amor/ódio, matar por matar, estuprar pessoas, assediar sexualmente as crianças, maltratar velhinhos, usar drogas até morrer, maltratar os animais por prazer (farra do boi, rinha de galo, etc...). Os humanos são capazes de arrancar a pele de animais vivos! E fazem isso para que esta pele mantenha um brilho “vivo” após ser arrancada, assim ela terá maior valor comercial, e essa pele servirá apenas como simples peça de luxo para algumas pessoas “muito importantes” e por ai vai! Seguramente os animais são muito melhores que nós!
A Terra estaria muito melhor sem a nossa existência! Não merecemos estar aqui! Em nome do conforto destruimos tudo onde colocamos as mãos.
Para que estamos aqui? Alguns tentarão justificar nossa presença através de alguma religião. Certamente os cientistas, físicos ou filósofos têm essa explicação, não eu! Mas já que estou aqui tenho que ver e viver tudo isso!
Alguns podem querer me perguntar se faço algo para mudar as coisas. Existe todo tipo de pessoa e eu sou do tipo que evita tomar atitudes que possam piorar a situação. Faço a minha parte. Estou errada? Pode ser, mas não sou o tipo de pessoa adequada para se empenhar em qualquer tipo de causa! Não sou perfeita! Mas tenho consciência o que já é alguma coisa!
Voltando a falar da inocência perdida, sinto que me foi arrancada uma parte dela quando sofri minha primeira desilusão amorosa. Descobri que fui descaradamente traída, digo descaradamente porque aconteceu com o envolvimento de pessoas do meu convívio diário, mas o tempo me protegeu de um sofrimento maior porque só soube disso um bom tempo depois de já ter terminado esse relacionamento. O que sobrou de tudo isso foi assombro, decepção, vergonha, raiva, nojo, perda da capacidade de acreditar nas pessoas e obviamente, perda de parte da minha inocência.
Outro episódio, que me fez perder mais um pedacinho da inocência, foi a partida da minha mãe. Deixei de ser filha e me tornei órfã! Perder a mãe dá uma sensação de total abandono. Passei a me sentir só e a única responsável por mim sem ter com quem contar. Como todas as pessaos que já passaram por isso, sofri por um bom tempo e ainda sinto a falta dela. Acho que isso não passa!
Acabei de perder totalmente a inocência quando descobri que não importa o que você faça pelos outros, nunca darão valor às suas atitudes, ao seu esforço e dedicação, seja por querer ajudar, por querer ser bacana, por querer ser útil, por querer o bem, por amor, por empatia, por compaixão, por... por... por... Não importa o motivo! Esquece... Ninguém te dará o valor que voce pensa merecer!
Ninguem precisa ser reverenciado ou ser tratado como “rei ou rainha” por fazer isso ou aquilo por alguém...
Meus dedos ficaram mudos... Nada sai... Fiquei sem palavras...
Não consigo dizer o que sinto! Estou tentando encontrar uma maneira de explicar a minha decepção para com as pessoas em geral.
Talvez meu problema seja o fato de pensar que devemos fazer aos outros, ou tratar os outros da mesma forma como gostaríamos de ser tratados. Foi o que sempre tentei fazer, mas sempre fico com a sensação de que só vai e nada volta.
Mesmo sabendo da existência da lei do retorno, e que tudo que eu fizer de bom ou de ruim, retornará para mim de alguma forma, eu me sinto triste.
Por conta disso, só não sei ainda se é bom ou ruim, eu me transformei numa pedra mole. Dura por fora e mole por dentro!
Quando percebo que meu lado bom está aflorando e que estou pensando em fazer alguma coisa por alguem, imediatamente eu bloqueio isso e me faço a seguinte pergunta: Alguém faria isso por mim? A resposta que vem é sempre não. Então porque fazer isso por alguem?
Ninguém vai morrer por eu não querer mais ser “boazinha”! Já eu, prosseguirei morrendo bem devagarinho, se continuar a me sentir assim como me sinto, triste e decepcionada, então por enquanto, ou talvez para sempre, eu continue sendo uma pedra mole!
O texto acima é de minha autoria.

Encontrei esta frase sobre inocência no link abaixo onde têm muitas outras, vale a pena espiar:
"Não há artifício que possa restabelecer a inocência ofendida; ela só se perde uma vez." (Ovídio)

2 comentários:

  1. Cris!!
    Texto PERFEITO!!!
    Vc escreveu exatamente como me sinto... eu , às vezes, gostaria de voltar a ser como era antes... mas por enqto, ou como vc disse, talvez pra sempre, é assim q sou...
    Bjos!

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  2. Oi, Daniela
    O que os fibromialgicos têm em comum é a sensibilidade extrema!
    Essa é apenas uma das várias características.
    Nós precisamos de tão pouco e as pessoas não percebem isso.
    Obrigada por deixar seu comentário.
    Bjs

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